E, por falar em batidas e buracos...
É possível transcorrer os 1.950 km de
estrada que ligam Cape Town a Maputo e não avistar um buraco sequer (impensável
para nós brasileiros, eu sei...). Um passeio até a região vinícola de Stellenbosh,
a apenas 50km da cidade, é portanto uma escolha segura, com direito a céu (e
chão) de brigadeiro.
E, por falar em vinícolas e brigadeiros...
(não o posto, e sim a guloseima)
É impressionante a quantidade de fazendas
em que o brilho dos vinhos é equiparável e, por vezes, ofuscado pelo dos excelentes
restaurantes que abrigam, a começar pela Jordan Wine State, vinícola muito bem
avaliada pelo crítico local, John Platter.
Ao entrar no restaurante, meu olhar vacilava
entre a cozinha aberta e contemporânea e os bucólicos vinhedos de Stellenbosch
escancarados à sua frente. A decoração espartana funciona como lente de aumento
sobre a paisagem e a varanda é, sem dúvida, o ambiente mais disputado.
Escolhemos um Chardonnay Reserva 2007
delicioso, com a cotação máxima de 5 estrelas de Platter.
O símbolo da Cape Winemakers Guild
significa que é um vinho especial, escolhido como representativo da qualidade
da casa. A associação reúne alguns dos melhores enólogos da região do Cabo e
promove seus vinhos com leilões e palestras.
Comecei com a delicada entrada de figos
grelhados com mozzarella de búfala, rúcula e porto, com crocantes sementes de
abóbora que lhe quebram a doçura.
A gráfica salada de gazpacho com pepinos,
croutons de azeitonas e pesto, rimava com as obras de arte contemporânea
das paredes.
O pescoço de cordeiro assado por 12 horas
com kromeskis (croquetes) de cordeiro, repolho, fondant de batatas e espinafre
cremoso, que prova que “carne de pescoço” pode ser uma expressão muito injusta.
A mesa inaugurou as sobremesas com um pedido etílico: sopa de cerejas pochê no riesling, com pannacotta de baunilha e crocante de brandy.
O suflê de mel com semente de papoula estava
delicadíssimo e hipnótico, como atestou a rigorosa crítica presente.
Ao final da refeição e do vinho, troquei
minha sobremesa por um belíssimo prato com queijos garimpados em fazendas
produtoras da região e envelhecidos na Cheese Room da vinícola, de onde tive
sérias dificuldades de sair.
Dá pra passar uma tarde explorando tão
somente os diversos queijos da casa:
Dalewood Brie, de Stellenbosch, Western
Cape
Witzenberger, da Fazenda Kimilili, em Tulbagh,
Western Cape
Crottin, de Fairview, Western Cape
Karoo Blue (parecido com stilton),
Langbaken, Northern Cape
Gruyère envelhecido por 12 meses, Klein
River, Western Cape
Underberger Old, Underberg, KZN
E por falar em estradas, vinhos, queijos, arte, paisagem e pratos, ninguém é obrigado a se casar com ninguém, mas garanto que vai ser muito difícil pra você não “harmonizar” com tudo isso.
Jordan Wine State
www.jordanwines.com
Stellenbosch Kloof Road, Vlottenberg, Stellenbosch
Olá. Estive aqui dando uma olhada. Muito legal aqui. Apareça por la. Abraços.
ResponderExcluirSe queijos nao combinam com vinhos, salvo raras excecoes, como vc diz, devemos comer queijo bebendo o que? (O resto do mundo harmoniza mto bem queijos e vinhos, ora com vinhos brancos, ora com tintos...
ResponderExcluirOlá! Na verdade poucos queijos combinam com poucos vinhos. São raras as combinações felizes como a do Roquefort com Sauternes ou Stilton com Porto, por exemplo. Se você, como eu, é amante da parceria, talvez goste dessa compilação que fiz de vários guias especializados no assunto:
ExcluirVINHO & QUEIJO
A idéia de que o queíio e o vinho se casaram no Paraíso não se confirma peIa experiência. Os bons vinhos tintos são exterminados pelos queiios fortes: só os brancos doces ou agudos sobrevivem.
Apesar das exceções, há alguns princípios a lembrar: quanto mais duro o queijo, mais tanino o vinho pode conter. E quanto mais cremoso o queijo, maior acidez se requer do vinho.
A principal exceção constitui um terceiro principio: geralmente, vinhos e queijos de uma mesma região simpatizam-se mutuamente.
O queijo se classifica por sua textura e pelo tipo de casca; assim, a aparência do queijo é indicadora do tipo de vinho mais adequado para acompanhá-lo. Os queijos mencionados são apenas exemplos das muitas centenas que existem.
FRESCO, SEM CASCA - CREMOSO, CRÊME FRAICHE, MOZZARELLA, MASCARPONE (SEM VEIOS AZUIS) Branco leve e ereto - Côtes de Duras, Bergerac, Vinho Verde, brancos ingleses sem carvalho; ou rosé - Anjou, Ródano; Bordeaux tinto muito leve, muito jovem, muito fresco, Bardolino ou Beaujolais.
QUEIJOS DUROS, ENCERADOS OU OLEADOS, POR VEZES EXIBINDO MARCA DE TECIDO - familia Gruyére, Manchego e outros espanhóis, Parmesão, Cantal, Comté, Gouda envelhecido, Cheddar e a maioria dos ingleses "tradicionais" A generalização é especialmente difícil; Gouda, Gruyére, alguns espanhóis e uns poucos ingleses complementam bons claretes, Cabernets e grandes vinhos Shiraz/Syrah, mas queijos fortes exigem vinhos menos refinados, de preferência locais. Queijo vermelho holandês Mimolette envelhecido, adocicado e granulado, bem como o Beaufort, funcionam bem com os melhores Bordeaux maduros. Também Tokay Aszú.
QUEIJOS AZUIS: Roquefort pode ser maravilhoso com Sauternes, mas não generalize para outros azuis. É a doçura do Sauternes, em especial envelhecido, que fornece complemento ao salgado do queijo.
A combinação entre Stilton e Porto, de preferência âmbar, é clássica. Oloroso envelhecido e intenso, bem como amontillado, Madeira, Marsala e outros fortificados funcionam com a maioria do azuis.
CASCA NATURAL (GERALMENTE EM QUEIJO DE CABRA), COM BOLOR CINZA AZULADO (QUANDO CURADO, A CASCA SE ENRUGA E É ÀS VEZES RECOBERTA DE CINZAS - COMO NO ST-MARCELLIN) Sancerre, Valençay, Sauvignon fresco e leve, Jurançon, Savóia, Soave, Chardonnay italiano, brancos ingleses (com leve carvalho).
QUEIJOS MACIOS COM CASCA RICA, DE BRANCO PURO QUANDO PASTEURIZADOS OU PINTALGADA DE VERMELHO: BRIE, CAMEMBERT, CHAOURCE, BOUGON ("CAMEMBERT" DE LEITE DE CABRA) Se o queijo é branco e meia cura, Borgonha branco totalmente seco, ou do Ródano; se curado, um potente e frutado St-Émilion, Pinot da Europa Oriental, Shiraz/Syrah australiano jovem (ou do Ródano).
QUEIJOS MACIOS DE CASCA LAVADA, COR LARANJA-AVERMELHADA, PEGAJOSA - LANGRES, ÉPOISSES MADURO, MAROILLES, CARRÉ DE L'EST, MILLEENS, MUNSTER: tintos locais, especialmente para queijos da Borgonha; tintos vigorosos como Languedoc, Cahors, Côtes du Frontonnais, corsos, do Sul da Itália, da Sicílía, Bairrada. Também brancos poderosos, especialmente Gewürztraminer e Muscat da Alsácia.
QUEIJOS SEMIMACIOS, COM CASCA CINZA-RÓSEA, UM TANTO ESPESSA - LIVAROT, PONT-L'EVÊQUE, REBLOCHON, TOMME DE SAVOIE, ST-NECTAIRE: Bordeaux, branco potente, Chardonnay, Pinot Gris alsaciano, Riesling puxado para o seco, brancos do Sul da Itália e Sicília, Rioja branco envelhecido, xerez oloroso seco. No entanto, os queijos mais fortes desse tipo matam a maioria dos vinhos.