sexta-feira, 6 de abril de 2012

O milagre do Natal - Brasserie, Nova Iorque.


Minha mãe é um tamagotchi. Sim, aquele brinquedinho japonês que morre se não for alimentado a cada X minutos. No caso do meu exemplar caseiro, a falta de alimentação provoca a morte de quem a cerca caso o suprimento não venha em intervalos regulares. Pra ser exata: a cada duas horas e meia.

Era Natal em Nova Iorque e vagávamos pelas ruas sem rumo e sem reserva; quatro crianças, dois adultos e um tamagotchi. O Natal é o único dia do ano em que a cidade fica irreconhecível, despida daquela multidão frenética, do barulho intermitente de ambulâncias e carros de polícia, e com todas as lojas fechadas. 

Três horas haviam se passado desde a última barra de cereais, suprimento de emergência que carregava na bolsa. Eu, que recebera beijos e afagos trinta minutos antes, agora ouvia: “fica obrigando as pobres crianças a uma caminhada terrível!”, “não vê que a menina chega a estar pálida de fome?”, “essa mania de querer sair do hotel!!”, “ah, Meu Deus, não passa um táxi. Já era!”, “eu sabia que ia ser esse horror!”.

As reclamações eram tão ritmadas quanto nossos passos e haviam plantado a semente da rebelião infantil que se daria, na melhor das hipóteses, duas quadras adiante. Até que ouço um grito desesperado: “Ali! Ali tem um restaurante!”. Antes que pudesse reagir, minha mãe seqüestra duas crianças e as empurra com os dentes trincados e aos solavancos porta adentro. 

Olhei para o salão abarrotado e quase perdi as esperanças. Avaliei a situação do tamagotchi, que já tinha os olhos saltados e, imediatamente me veio à cabeça a cena premonitória em que, diante de uma negativa, minha mãe assassinava a recepcionista com a faca do couvert. Fiz um download de todas as preces que conhecia e São Longuinho, misericordiosamente, apontou a única mesa disponível. E ela tinha exatos 8 lugares.


Ao primeiro olhar, ninguém diz se tratar de um negócio instalado em 1959 no prédio da Seagram. A vitalidade do serviço, o ambiente e o público emprestam à Brasserie, um dos franceses mais clássicos de Nova Iorque, ares de restaurante recém inaugurado.

O ambiente imenso é de um futurismo meio "Jetsons"e o menu atende a todas as expectativas, desde o hambúrguer para as crianças até os clássicos franceses com um twist, como o steak frites, salada frisée aux lardons ou a sopa de cebolas que fez voltar a cor, o sorriso e a alegria ao rosto de minha mãe.


E quem resiste a uma sopa de cebolas clássica? 
Tartare de atum, com coentro, gengibre e crocante de inhame. 
Salada de beterrabas com queijo de cabra e noz pecã. 
O jumento mais simpático que já conheci,
da Brosseau Vineyards, cítrico e mineral como eu gosto
. 
Bolo de caranguejo 
Salmão com gnocchi frito, couve flor e inhame picante. 
Peixe grelhado com vagens e ervas de Provence. 
Tarte tatin (embrulhadinha) com crocante de maçã
e sorvete de maçã caramelizada.
 
Ganache de chocolate com sorvete de tangerina.

Realmente não esperava que o lugar deixasse a tarde cinza e o tamagotchi do lado de fora e nos brindasse com um oásis para todos os tipos de fome ou idade. Brasserie: um belo presente de Natal. 

BRASSERIE

www.patinagroup.com/restaurant.php?restaurants_id=55
End: 100 East 53rd st. - New York
Tel: 212 751.4840
café da manhã - de segunda a sexta, das 7:30hs às 11:00hs
brunch - sábados e domingos, das 11:00hs às 16:00hs
almoço - de segunda a sexta, das 11:00hs às 16:00hs
jantar - de segunda a quinta, das 16:00hs. às 23:00hs
jantar - sexta e sábado, de 16:00hs a meia-noite
jantar - domingo, das 16:00hs às 22:00hs

10 comentários:

  1. Muito bom Cris, com seu bom humor de sempre! Nossa, sua mãe ainda é assim?? Lembro dela na fazenda ordenando que eu passasse manteiga dos dois lados da torrada! E seu pai pedindo os sanduichinhos de pepino na beira da piscina...So nao sei se estou com mais vontade de ir a fazenda ou ao restaurante em NY...

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  2. Gostei, muito bom. www.makivelpoliticademocratica.blogspot.com

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  3. Rita de Cássia Vieira Braga6 de abril de 2012 às 13:59

    Adorei o texto! Me deu até um pouquinho de fome. Linda as fotos....

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  4. Boa noite. Parabéns pelo texto. Enxuto. Muito bom. A propósito, estou viajando próximo mês p NY e gostaria de saber se vc tem alguma indicação de algum lugar que tenha boa música (jazz) ao vivo e coma-se bem? Grato pela atenção.

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    1. Marcelo, uma boa opção é sempre a dupla Blue Smoke/Jazz Standard!

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  5. Gente!!!! também tenho uma mãe tamagotchi! Será que é mais uma característica das mulheres da família Coutinho? A mamãe é um tamagotchi que vira Tazz quando não alimentado!E o pior, nessa fase nada agrada. Quem sabe a Brasserie?
    Bjs!

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    1. Leva ela lá! Elas são dos clássicos, dos básicos. Vai adorar!

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