Vocês se lembram de 1997? Eu me lembro
perfeitamente.
Em 1997 perdi meu pai.
Em 1997 ganhei um filho.
Em 1997 estava absolutamente decidida a
abrir um restaurante.
Também naquele ano inaugurava em
Nova Iorque um restaurante grego que estava na contramão de tudo que havia até então. E o que havia? A moda era abusar de
manteiga; o peixe era sempre salmão; molhos pesados eram
apresentados em um milhão de versões; e a (con)fusão de sabores reinava no prato. A decoração em voga abusava de pisos sintéticos
e cores vibrantes, e as luminárias de ferro pintado ziguezagueavam por teto e
paredes.
Quando entrei no imenso salão branco e amplo, com pé direito alto,
paredes limpas, vigas à mostra e cozinha aberta ao fundo, percebi a genialidade
irritante do conceito: o MILOS estava uns 10 anos adiante de sua época, com uma
proposta de 2.000 anos atrás.
Respeito aos ingredientes, peixes
fresquíssimos, azeite extra-virgem e uso abundante de legumes e verduras são a base da cozinha milenar grega e é tudo que mais aprecio e
respeito em termos gastronômicos. Hoje isso é lugar comum, mas na época simplicidade era sinônimo de falta de
sabor, criatividade e técnica.
Voltei inúmeras vezes nestes 14 anos e não canso de me encantar. O serviço esquenta qualquer frio norte americano de
tão simpático e caloroso, e os pratos são de uma simplicidade espartana incapaz de esconder qualquer erro de cocção ou ingrediente duvidoso.
Uma boa regada de extra-virgem escolta pães e pratos. |
Pasta de favas com cebola roxa. |
Sardinhas gordas grelhadas. |
A divina salada de queijo feta (o legítimo), com tomates, pimentões, azeitonas Kalamata e pepinos. |
Um Red Snapper (o nosso Vermelho) absolutamente divino. Fiz a anotação mental de dispensar as alcaparras que o acompanham na próxima. |
Para os que não querem peixe, como meu companheiro de mesa, um belo naco de Red Angus faz qualquer um sorrir. |
Haricots Verts. |
O denso iogurte grego de cabra, totalmente artesanal, com mel aromatizado com tomilho de Kythera. |
Karidopita, o tradicional bolo grego de nozes e canela, "americanizado" com uma bola de sorvete. |
Vocês se lembram de 1998?
Eu me lembro perfeitamente.
Foi o ano em que abri o Bazzar.
MILOS ESTIATORIO
www.milos.ca/en/newyork
125 West 55th Street (entre a 6a. e a 7a. avenidas)
Nova Iorque, NY
Tel: 212.245.7400
Interessante seu artigo. Na culinária japonesa, a simplicidade de seus pratos, sempre voltados para o arroz,peixes,frutos do mar e das bases do Dashi e Shoyu, sem aquela excesso de temperos que, creio, teimosamente se mantém nas cozinhas mediterrâneas. A idéia da simplicidade é exatamente manter o sabor original do alimento e condimenta-lo somente o necessário. O shoyu, no Japão, é como um sal; o dashi, caldo de peixe (katsuobushi) é base de sopas claras ou encorpadas; hortaliças a vontade e temperos com muita, muita parcimônia para não estragar a textura original do alimento. O que não concordo é com a americanização.Para franceses e japoneses, os americanos gostam mesmo das "comidas sintéticas" recheadas de creams cheeses e ketchups.
ResponderExcluirDelícia de texto, lindas fotos, inclusive a última, da autora do post. Adorei. O blog está cada vez melhor, em termos de textos, fotos e humor. Beijão!!!!!!!!
ResponderExcluirmesmo com ingredientes não tão legítimos, vou fazer a salada que me pareceu deliciosa. Beijo
ResponderExcluirQue bom, Ivana! Aliás, acho que farei o mesmo!
ResponderExcluirCristiana , sua crônica -esse é o termo adequado- é atemporal , como a excelência do Milos , onde estive há menos de 15 dias ! E o seu sonho de 1997 é uma perene realidade com tendência a se eternizar !Alias , esses 14 anos que fizeram muito bem : está linda e simpática como sempre ! Beijos !
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