Imersa em divagações usualmente encontradas no fundo de um copo de vinho, me perguntava por que as estrelas são o ícone mais apropriado para conferir a excelência de restaurantes de qualidade. A resposta eu tive em Paris, numa noite de janeiro.
Já tinha ouvido falar, aqui e ali, sobre o restaurante L´Arôme, no 8º arrondissement. Sempre recebi com desconfiança recomendações do tal “triângulo de ouro”, repleto de armadilhas para turistas, e decidi entrar devidamente “armada” com meu olhar preferido: o excessivamente crítico.
Apesar da elegância austera do salão, uma luminária de Murano, com inspiração e penduricalhos deslocadamente orientais teimava em me encarar. A luz fria da cozinha aparente também me incomodou. Nada muito feio, tampouco bonito, mas meu olhar continuava implacável.
Embalada pelo primeiro gole de um delicioso champagne rosé, comecei a admirar os detalhes: belos pratos e copos, retângulos de manteiga defumada do craque Bordier, e fatias sedutoras de presunto Pata Negra de Salamanca instigavam o apetite.
O maître, muito gentil, apresentou o menu degustação diante do olhar atento do dono. E, por falar no dono... Já tinha lido sobre Eric Martins, ex-Guy Savoy, ex-Lucas Carton, entre outras casas de peso, mas não tinha prestado atenção ao seu sobrenome. Não, não é Martin, como se esperaria de um francês: é Martins. Com um discreto sorriso, após meu óbvio interesse nos pratos, Eric se aproxima e entabula uma conversa no mais perfeito português, sua segunda língua.
Em seguida, conheço o sommelier, Renaud Laurent, que com muita objetividade investiga minhas preferências e recomenda um vinho de ótimo custo-benefício. Voilá! Isso é que eu chamo de sommelier; nada de rótulos muito badalados e preços exorbitantes. Pequenos produtores, castas originais e preços condizentes.
Começa o show do chef Thomas Boullault:
O amuse bouche consistia de camarões empanados em farinha japonesa, com espuma de crustáceos e especiarias e toque de limão siciliano. O perfume e a apresentação eram tão lindos que a boca foi mais rápida do que a câmera.
Caranguejo bretão com abacate haas e gotas de manga e maracujá. |
As bolinhas de sêmola típicas da Sardenha chamadas de fregola sarda, são preparadas como um risotto, acompanhando gordas vieiras coroadas com trufas negras e espuma de parmesão envelhecido. Chorei. |
Robalo selvagem ao perfume de laranjas sangüíneas sobre trigo bulgur com pesto de coentro. Delicadeza e equilíbrio. |
Foie gras com gomos de grapefruit rosa, em salada de ervas com óleo de argania (árvore marroquina) e lasquinhas estaladiças de chocolate amargo. Indescritível. |
Risotto de vôngoles com espuma de parmesão. Etéreo. |
Assim como as estrelas nascem nas nebulosas, os restaurantes nascem em meio a dúvidas quanto a sua proposta, longevidade, qualidade e público.
A explosão de sabores da noite certamente equivale ao momento em que a nebulosa se contrai, a força gravitacional aumenta e a temperatura começa a subir. A sensação ao fim do jantar era divina, celeste, estelar.
Não sabia, antes de entrar, que o restaurante havia sido premiado. Nasceu em mim uma estrela, assim como no inspetor do Guia Michelin que, após uma noite como a minha, concedeu ao L´Arôme o ícone perfeito de um restaurante de sucesso.
L´ARÔME
www.larome.fr
3 rue Saint-Philippe du Roule
75008 Paris
Tel. 33.1.42.25.55.98
L´ARÔME
www.larome.fr
3 rue Saint-Philippe du Roule
75008 Paris
Tel. 33.1.42.25.55.98
Nunca vi a tal da foto que vale mil palavras. Mas há as mil palavras que valem o retrato completo. Depende de quem as escreve. Esta, nítida, intensa, evocativa, provocativa. Mais do que cor, tem coloratura de uma soprano nada mezzo. Eu vou.
ResponderExcluiro post esta lindo, mas o restaurant não é lá essas maravilhas.
ResponderExcluiracho que nao merecia estrelas nenhuma....
reginacerucci
Gostas de poesia?
ResponderExcluirhttp://psixani.blogspot.com/
Estejas certa de que comentários ou sugestões seráo bem recebidos. By!