terça-feira, 13 de outubro de 2009

TESTE DE URBANÓIDE – ILHA DE CRETA - Okeanos, Giorgos

Sou totalmente cosmopolita, urbana. Adoro acordar e saber que há um filme novo em cartaz, uma exposição nos Correios ou ainda que Fernanda Montenegro agora é Simone de Beauvoir. Acho que é por isso que, vez por outra, escolho inconscientemente como destino o outro lado do espelho. Assim, fui parar em Creta.

Ao primeiro olhar a paisagem seca e monocromática com arbustos curvados pelo vento e pequenas casas aqui e ali reafirmam a minha escolha: Tá vendo? Uma semana disso e eu morria de tédio – pensei. O primeiro golpe foi a descida em direção à baía de Elounda. O ziguezague íngreme em direção ao azul mais profundo que já vi estremeceu minhas convicções.

Além da beleza natural, a visita aos sítios arqueológicos como o belíssimo Palácio de Knossos e a passagem de um sem número de culturas riquíssimas como os minóicos, micênicos, romanos, bizantinos e venezianos gera um interesse impossível de digerir em pouco tempo. Dá-se a primeira tentação: largar o laptop e estender a viagem.

As noites também não ajudam na volta à metrópole. As taxas de umidade praticamente nulas na Primavera fazem das noites cretenses um manto límpido pontilhado de astros.

Além das atrações mais conhecidas e imperdíveis, alguns locais menos badalados me encantaram: o primeiro foi a pequena cidade de Aghios Nikolaos, cujo nome faz referência à Capela de São Nicolau construída no período bizantino. A cidade de pescadores é uma graça e prosperou durante a ocupação veneziana. Cafés e tavernas em estilo mediterrâneo se concentram ao redor das águas da baía de Mirabello, nome veneziano dado ao castelo construído em 1206 que dominava a baía. Lá almoçamos num lugar simples, de comida excelente e serviço ímpar. A cozinha fica do outro lado da rua. Bandejas aflitas esperam a passagem dos carros para entregar os peixes junto ao lago. Um “duo” de garçons muito bem humorados disputava, abertamente, o título de melhor garçom da Grécia e, com tino comercial verdadeiramente grego, afirmavam só indicar os peixes mais frescos porque “queriam que fôssemos clientes eternos e não clientes de uma só vez”. O exagero da afirmativa aliado a um par de sorrisos largos nos conquistou no melhor estilo “me engana que eu gosto”. Verdade seja dita: fosse a frase “de efeito” ou não, os peixes estavam fresquíssimos e as massas, deliciosas.

A essas alturas já era uma criatura descabelada e feliz (o vento não dá trégua, mas pente pra quê?), de sandália de dedo baixa, um sarongue eterno por cima do biquíni, um bronzeado maravilhoso e a firme determinação de ficar por lá um ano ou dois.

Um passeio pela baía de Spinalonga provou que existe, sim, vida além de engarrafamentos, laptops, blackberrys e das revistas Piauí ou Bravo! Minha receita alternativa de felicidade também pode ser boa companhia, um peixe fresco, um bom vinho, o mar e, naturalmente, 5.000 anos de história.

O peixe ideal, aliás, está na TAVERNA GIORGOS, em Plaka. A recepção é calorosa, o ambiente totalmente informal e a vista, um espetáculo! Aquele mar que não cansava de “rebater” o azul do céu, um imbatível tzatziki (iogurte de leite de cabra, pepino, azeite, alho e endro) e os peixes mais frescos que já comi. Os donos são uma simpatia e recomendo que deixem escolher um pouco de tudo para você. Me lancei, obviamente, a tudo que era local. Pra começar, devorei o “primo” da barracuda pescado bem em frente ao restaurante que, quando adulto, chega a 8kg. Chama-se TOURNAS e foi devidamente escoltado por um branco muito correto do produtor Tamiolakis, feito com as castas vidiano e plytó. Os peixes podem ser os locais robalo, pargo, lúcio ou peixe-espada (único peixe cretense exportado) com um fio de azeite extra-virgem ou um simples molho de tomate. Os acompanhamentos também despretensiosos, privilegiam sempre o frescor dos ingredientes.

Vá lá (e arrume algo que o prenda à metrópole para ter forças para voltar).

OKEANOS
http://www.okeanos-seafood.gr/
Lago de Aghios Nikolaos, Creta
Tel.: +30 28410 82298

GIORGOS
Plaka, Elounda - Creta
http://www.giorgos-plaka.gr/

6 comentários:

  1. Um iogurte com mel pela manhã,very rich como diriam as Nigellas da vida. Espantando o calor da tarde um Ouzo com água e muito gelo ( o Pastis dos gregos..). No almoço uma salada de queijo feta e pepino , muito azeite,tomate , quem sabe algum tomilho ou outra erva seca há pouco, peixe ou lagosta , que eles também têm boas, e mais tarde um cordeiro na brasa com batatas e aquelas berinjelas saborosíssimas..Sobremesa, podem ser lucumadis , com o perdão da grafia incerta e não sabida. São bolinhos fritos e regados a mel,de novo, gêmeos separados ao nascer dos filhoses pernambucanos , de origem lusa creio, que marcaram minha infância ( que é o que menos interessa, mas a informação vale: filhós tem um parente grego,o lucumadis) De bobos nada têm esses helênicos. Descubro no seu post que também fazem vinhos decentes, além daquele folclórico retzina, assim fica difícil.

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  2. Amo os gregos por tudo! Me economizam nas calorias, são uma simpatia e ainda dizem que eu tenho cara de local. Vinhos gregos têm a vantagem de ter ótimo custo/benefício, mas tem que "ralar" pra descobrir os bons produtores, que investiram nas técnicas de vinificação pra "vencer" o clima local. Quanto ao Retsina, concordo. Um vinho que aromatizado com essência de pinho não podia nem ser classificado como vinho. Se a gente pensa nele como "algo", até que dá pra levar. Grite "opa!", finja que é local e mande pra dentro!

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  3. Aliás, os loukoumades são aqueles bolinhos que parecem um sonho, não? Polikaló (muito bom!!) Aprendi isso com uma garçonete boazinha que teve a paciência de me ensinar a elogiar as coisas por lá...

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  4. Bem que eu pedi perdão antecipado pela minha grafia..obviamente loukoumades é muito mais correto. Mas são sim aqueles bolinhos e,sério, se ou quando você for a Recife , vale tentar descobrir os filhoses, muitíssimo parecidos . Loukoumades aliás, deve ter a ver com loukoum,aquela sobremesa árabe.. Enfim, a diferença maior é que enquanto na Grécia são servidos com mel de abelha, a tradição pernambucana pede mel de açúcar, não confundir com melado, açúcar mesmo , derretido no banho maria fazendo uma calda transparente e muito doce,claro.
    Outras dicas de doces pernambucanos, além do manjado bolo de rolo: bolo Souza Leão, receita secular da família de mesmo nome, um passo além no bolo de aipim, e o pé de moleque local. Pouco a ver com o carioca, tem uma massa, creio que a base de mandioca, só que escura e de sabor forte com muita castanha de caju, duas experiências boas..

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  5. Agora você aguçou minha curiosidade. Não consigo "não conhecer" alguma coisa!! Sonho com o tema e me perco em pesquisas. Agora com certeza minha nova compulsão noturna será a busca da origem dos loukomades que, apesar do nome de artrópode, são mesmo uma delícia. Também não conheço o moleque pernambucano, e olha que meu avô era de lá. Agora é questão de honra. Vou atrás dos dois. bjs

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  6. oi cristiana, recebi um e-mail de vcs falando do blog. Adorei!
    vai para meus preferidos com certeza...

    aproveitando, passa lá na "perninha" da substância 4 - chama-se lily magnólia - http://www.substancia4.com.br/lily
    estamos desenvolvendo alguns materiais de decoração que talvez te interessem ou ao bazzar... vai lá!!
    super bj

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