Sou totalmente cosmopolita, urbana. Adoro acordar e saber que há um filme novo em cartaz, uma exposição nos Correios ou ainda que Fernanda Montenegro agora é Simone de Beauvoir. Acho que é por isso que, vez por outra, escolho inconscientemente como destino o outro lado do espelho. Assim, fui parar em Creta.
Ao primeiro olhar a paisagem seca e monocromática com arbustos curvados pelo vento e pequenas casas aqui e ali reafirmam a minha escolha: Tá vendo? Uma semana disso e eu morria de tédio – pensei. O primeiro golpe foi a descida em direção à baía de Elounda. O ziguezague íngreme em direção ao azul mais profundo que já vi estremeceu minhas convicções.
Além da beleza natural, a visita aos sítios arqueológicos como o belíssimo Palácio de Knossos e a passagem de um sem número de culturas riquíssimas como os minóicos, micênicos, romanos, bizantinos e venezianos gera um interesse impossível de digerir em pouco tempo. Dá-se a primeira tentação: largar o laptop e estender a viagem.
As noites também não ajudam na volta à metrópole. As taxas de umidade praticamente nulas na Primavera fazem das noites cretenses um manto límpido pontilhado de astros.
Além das atrações mais conhecidas e imperdíveis, alguns locais menos badalados me encantaram: o primeiro foi a pequena cidade de Aghios Nikolaos, cujo nome faz referência à Capela de São Nicolau construída no período bizantino. A cidade de pescadores é uma graça e prosperou durante a ocupação veneziana. Cafés e tavernas em estilo mediterrâneo se concentram ao redor das águas da baía de Mirabello, nome veneziano dado ao castelo construído em 1206 que dominava a baía. Lá almoçamos num lugar simples, de comida excelente e serviço ímpar. A cozinha fica do outro lado da rua. Bandejas aflitas esperam a passagem dos carros para entregar os peixes junto ao lago. Um “duo” de garçons muito bem humorados disputava, abertamente, o título de melhor garçom da Grécia e, com tino comercial verdadeiramente grego, afirmavam só indicar os peixes mais frescos porque “queriam que fôssemos clientes eternos e não clientes de uma só vez”. O exagero da afirmativa aliado a um par de sorrisos largos nos conquistou no melhor estilo “me engana que eu gosto”. Verdade seja dita: fosse a frase “de efeito” ou não, os peixes estavam fresquíssimos e as massas, deliciosas.
A essas alturas já era uma criatura descabelada e feliz (o vento não dá trégua, mas pente pra quê?), de sandália de dedo baixa, um sarongue eterno por cima do biquíni, um bronzeado maravilhoso e a firme determinação de ficar por lá um ano ou dois.
Um passeio pela baía de Spinalonga provou que existe, sim, vida além de engarrafamentos, laptops, blackberrys e das revistas Piauí ou Bravo! Minha receita alternativa de felicidade também pode ser boa companhia, um peixe fresco, um bom vinho, o mar e, naturalmente, 5.000 anos de história.
O peixe ideal, aliás, está na TAVERNA GIORGOS, em Plaka. A recepção é calorosa, o ambiente totalmente informal e a vista, um espetáculo! Aquele mar que não cansava de “rebater” o azul do céu, um imbatível tzatziki (iogurte de leite de cabra, pepino, azeite, alho e endro) e os peixes mais frescos que já comi. Os donos são uma simpatia e recomendo que deixem escolher um pouco de tudo para você. Me lancei, obviamente, a tudo que era local. Pra começar, devorei o “primo” da barracuda pescado bem em frente ao restaurante que, quando adulto, chega a 8kg. Chama-se TOURNAS e foi devidamente escoltado por um branco muito correto do produtor Tamiolakis, feito com as castas vidiano e plytó. Os peixes podem ser os locais robalo, pargo, lúcio ou peixe-espada (único peixe cretense exportado) com um fio de azeite extra-virgem ou um simples molho de tomate. Os acompanhamentos também despretensiosos, privilegiam sempre o frescor dos ingredientes.
Vá lá (e arrume algo que o prenda à metrópole para ter forças para voltar).
OKEANOS
http://www.okeanos-seafood.gr/
Lago de Aghios Nikolaos, Creta
Tel.: +30 28410 82298
GIORGOS
Plaka, Elounda - Creta
http://www.giorgos-plaka.gr/
Um iogurte com mel pela manhã,very rich como diriam as Nigellas da vida. Espantando o calor da tarde um Ouzo com água e muito gelo ( o Pastis dos gregos..). No almoço uma salada de queijo feta e pepino , muito azeite,tomate , quem sabe algum tomilho ou outra erva seca há pouco, peixe ou lagosta , que eles também têm boas, e mais tarde um cordeiro na brasa com batatas e aquelas berinjelas saborosíssimas..Sobremesa, podem ser lucumadis , com o perdão da grafia incerta e não sabida. São bolinhos fritos e regados a mel,de novo, gêmeos separados ao nascer dos filhoses pernambucanos , de origem lusa creio, que marcaram minha infância ( que é o que menos interessa, mas a informação vale: filhós tem um parente grego,o lucumadis) De bobos nada têm esses helênicos. Descubro no seu post que também fazem vinhos decentes, além daquele folclórico retzina, assim fica difícil.
ResponderExcluirAmo os gregos por tudo! Me economizam nas calorias, são uma simpatia e ainda dizem que eu tenho cara de local. Vinhos gregos têm a vantagem de ter ótimo custo/benefício, mas tem que "ralar" pra descobrir os bons produtores, que investiram nas técnicas de vinificação pra "vencer" o clima local. Quanto ao Retsina, concordo. Um vinho que aromatizado com essência de pinho não podia nem ser classificado como vinho. Se a gente pensa nele como "algo", até que dá pra levar. Grite "opa!", finja que é local e mande pra dentro!
ResponderExcluirAliás, os loukoumades são aqueles bolinhos que parecem um sonho, não? Polikaló (muito bom!!) Aprendi isso com uma garçonete boazinha que teve a paciência de me ensinar a elogiar as coisas por lá...
ResponderExcluirBem que eu pedi perdão antecipado pela minha grafia..obviamente loukoumades é muito mais correto. Mas são sim aqueles bolinhos e,sério, se ou quando você for a Recife , vale tentar descobrir os filhoses, muitíssimo parecidos . Loukoumades aliás, deve ter a ver com loukoum,aquela sobremesa árabe.. Enfim, a diferença maior é que enquanto na Grécia são servidos com mel de abelha, a tradição pernambucana pede mel de açúcar, não confundir com melado, açúcar mesmo , derretido no banho maria fazendo uma calda transparente e muito doce,claro.
ResponderExcluirOutras dicas de doces pernambucanos, além do manjado bolo de rolo: bolo Souza Leão, receita secular da família de mesmo nome, um passo além no bolo de aipim, e o pé de moleque local. Pouco a ver com o carioca, tem uma massa, creio que a base de mandioca, só que escura e de sabor forte com muita castanha de caju, duas experiências boas..
Agora você aguçou minha curiosidade. Não consigo "não conhecer" alguma coisa!! Sonho com o tema e me perco em pesquisas. Agora com certeza minha nova compulsão noturna será a busca da origem dos loukomades que, apesar do nome de artrópode, são mesmo uma delícia. Também não conheço o moleque pernambucano, e olha que meu avô era de lá. Agora é questão de honra. Vou atrás dos dois. bjs
ResponderExcluiroi cristiana, recebi um e-mail de vcs falando do blog. Adorei!
ResponderExcluirvai para meus preferidos com certeza...
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super bj