Confesso que acho lindo tudo que chamam de "caótico" em Roma: suas ruas estreitas e confusas, suas imperfeições; tudo transmite hístória. O segredo da cozinha italiana, que é exatamente o que a torna tão apaixonante é a simplicidade. Daí ter achado estranho quando me disseram que havia um ótimo restaurante contemporâneo em Roma. Si, contemporâneo, ma non troppo. O ambiente é lindo, com pé direito alto, móveis e utensílios de design. Na entrada, o balcão de peixes fresquíssimos anuncia a especialidade da casa.
O restaurante foi construído em cima de Teatro de Julius Caesar, da época de Nero. Há vários mosaicos originais no subsolo onde fica a adega (a visita é obrigatória). Há, também, uma sala privativa que, segundo o dono, é reservada para almoços de negócios. O público é o melhor possível e a música, é claro, brasileira como nos melhores lugares.
A montagem da mesa é do jeito que gosto, com seleção de pães invejável e azeite Manni toscano orgânico espetacular. Até a água é bacana: uma Filetto, disfarçada de vinho. Começamos com uma lula filetada crua com alcachofra e purê de feijão, seguida de um trio de peixes crus maravilhoso. A merluza, o atum e a peçonha (ou algo assim) eram regados com azeite e limão sicilano. O peçonha é levemente defumado e é abudante na costa de Nápoles. Depois comemos outro peixe cru bastante untuoso, cortado em fatias transparentes, com um fio de cassis e suco de tangerina. Como tudo é muito leve, seguimo corajosamente em direção aos crustáceos crus e ao cannochie, um pequeno crustáceo também de Nápoles de sabor muito delicado, entre um camarão e uma lagosta. Já podia ter parado por ali mas não: comemos ainda um tagliolinni com trufas brancas e um linguado no sal grosso com salada verde com cebolas, pimentões, trufas negras e mini rúcula. A dica de vinho também foi do dono: um Brunello di Montalcino 2003, do produtor Salvioni.
Detalhe importante: é uma graça o hábito dos romanos de arrumar nossos guardanapos a cada vez que deixamos a mesa.
Sobremesa? Claro! Pedimos um lingotto (barrinha) de chocolate branco com creme derretido de nocciola por dentro e uma espuminha que é descrita como chá de rosas mas tem gosto que remete a café. Ao lado, uma geléia de laranja excelente.
Mais uma vez, o sucesso está na simplicidade. As leves "pitadas" de originalidade aqui e ali não ofuscam o sabor dos ingredientes de primeira. Sem dúvida, uma ótima experiência.
IL SAN LORENZO
Via dei Chiavari 4/5
Tel: 39 06 68 65 097
http://www.ilsanlorenzo.it/
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