O nome vem da onomatopéia que reproduz o som de um gole, e as inúmeras garrafas de vinhos na adega aparente deixam claro que bebida se faz engolir por lá.
Não fosse a pesquisa prévia, o lugar passaria facilmente despercebido, com sua estreita portinhola de madeira e tímidas janelinhas verticais.
O primeiro andar é quase um corredor, com 27 assentos distribuídos entre duas mesas de quatro lugares e outras duas mesas altas e comunitárias. Não cheguei a visitar o segundo andar, mas me pareceu igualmente acanhado.
O partido da casa é predominantemente orgânico, tanto para a carta quanto para o cardápio. Isso não quer dizer que haja abundância de pratos verdes. Há uma bela seleção de carnes, presuntos e embutidos que atraem todo o tipo de clientela.
Em destaque, as “pérolas da casa”, que incluem ovas de salmão com blinis e creme; atum da Ilha de Yeau, na região do Loire; o famoso Lardo di Colonnata de Fausto Guadagni , que é a banha de porco da pequena cidade de Colonnata, na Toscana, famosa pelos mármores que Michelangelo usava em suas obras. A banha que fica embaixo da pele do porco é tratada com especiarias e maturada de 6 a 8 meses em tubos de mármore, em cavernas da mesma pedra (nada que um Lipitor não resolva!); e o Presunto Ibérico Bellota, feito com a carne de porco da raça ibérica, que além de muito pura é criada em liberdade em pastagens e florestas, onde se alimentam de bellotas (amêndoas do carvalho ou sobreiro). A classificação de qualidade de sua carne é feita de acordo com a quantidade de exercício e o número de bellotas que o animal consumiu antes do sacrifício.
Na carta predominam os rótulos franceses, mas há espanhóis, italianos e ainda outros do Novo Mundo. A boa notícia é que são servidos em taça vinhos nada banais, dando aos sedentos consumidores a chance de provar rótulos mais caros. Fui num copo de tinto do Leon Barral, viticultor do Alto Languedoc, que produz vinhos orgânicos, potentes e extremamente frutados.
A “tribo” se situa entre os 30 e 40 anos e as atendentes são propositalmente bonitas e jovens. O ambiente é apertadinho, o que favorece a sociabilidade, mas nada confortável. Apesar do óbvio “apelo”, a casa não deixa de ser “kid-friendly” e oferece cardápio infantil do dia.
O proprietário do Glou é o ex-editor da revista de gastronomia Régal, o que me fez encarar as inúmeras críticas positivas com certa reserva. Os pratos foram inconsistentes em termos de qualidade, com um ou outro ingrediente sem qualquer tempero, além de massas com erro de cozimento. No entanto, delícias como a Boudin Noir com purê de batatas e maçãs, ou as vieiras com massa de arroz em caldo de dashi salvaram a noite.
As terrines e patês para acompanhar seu copo de vinho também são sucesso garantido ou, quem sabe, um prato de queijo Vieux Comté, maturado por 24 meses. Pra terminar um divino cheesecake, como não comia há anos, com massa orgânica da griffe do pâtissier Bogato.
Entre altos e baixos, qual foi o veredito? Vale a pena, vale a farra, vale até o último gole de expresso. Glou!
GLOU - Cuisine et Vins Sympathiques
101, Rue Vieille du Temple
75003 - Paris
Reservas: 01.42.74.44.32
Aberto todos os dias
das 12hs às 14:30hs
das 20hs às 23hs
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