segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Confissão


É bom que se diga logo: a verdade é que arrumei um amante.

Desde bem jovem me casei com o vinho. Foi um casamento arranjado, é fato. Com meus 12 anos de idade, meu pai, que colecionava bons rótulos, já me incentivava a sentir os aromas daquele líquido mágico e, com um interesse encorajador, escutava atentamente a minha opinião. Em dia de festa me permitia tomar um gole para educar o paladar, o que me enchia de alegria e emprestava responsabilidade às degustações futuras.

Assim cresci, estudei, e bebi todos os rótulos possíveis e imagináveis nos últimos 25 anos. Fora uma breve fase cervejeira na adolescência, meu amor pelo vinho se consolidou e meu respeito pela bebida é absolutamente ímpar.

Um belo dia, no meu aniversário, fui apresentada a meu futuro amante. Meu interesse pela cerveja como produto para os restaurantes era crescente e notório. Talvez numa sessão de análise ficasse fácil descobrir que já havia me apaixonado, sem que me apercebesse. 

Fui presenteada com uma dúzia de cervejas artesanais do Brasil e do Mundo. De início não sabia em que ocasião toma-las. Até que, numa tarde tranqüila e nada especial, sorvi uma Trappistes Rochefort 10. Realmente não esperava... Era quente, impactante, crescente na boca. Bang!  Mergulhei num universo absolutamente cativante de novos aromas, sabores, texturas e corpo.

Depois de montar a carta de cervejas artesanais do Bazzar, me pegava culpada a cada gole que tomava. Olhava sobre os ombros, encurvada, sentindo que traíra o vinho e todos os anos de estudo, degustação e comprometimento. Mas ao contrário do relacionamento já estabelecido e maduro que tínhamos, a cerveja me dava algo diferente, descomplicado, cheio de aventura e sabor. A cerveja me permitia passear com currys, ovos e outros ingredientes, sem qualquer constrangimento. Eu precisava daquilo.

Hoje decidi abrir o jogo: é cerveja no almoço e vinho no jantar. O vinho não reclama; faz vista grossa e dá espaço para minhas aventuras, torcendo para que a cerveja não vença, também, o segundo turno.  Hoje tenho a firme convicção de que há espaço para ambos em minha sede.

Na semana passada, um uísque puro malte me olhou de soslaio... mas essa é outra estória.


Bazzar
Rua Barão da Torre, 538 - Rio de Janeiro
3202-2884 

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