terça-feira, 26 de julho de 2011

Tre (o tredici) bicchieri - Salumeria Roscioli, Il Goccetto, L´Arcangelo - Roma

Nada como a companhia certa para evitar escolhas erradas. Assim foi minha chegada em Roma: uma noite que valeu por três. 

Nicola Massa e Luciana Longo (ele romano, ela de Torino) gentilmente nos conduziram pela cidade, com o olhar de quem a conhece do avesso.

Primeira parada: SALUMERIA ROSCIOLI

Começamos pela Roscioli, um dublê de enoteca, casa de frios e restaurante. Sentar no pequeno balcão de quatro banquetas é obrigatório. Por quê? Lá fica mais fácil interagir com a equipe e, acredite, você vai precisar. Toda a ajuda é bem-vinda na escolha de um dos 450 tipos de queijo, 100 tipos de frios, 2200 rótulos de vinho (!!), dezenas de cervejas e azeites, além de 20 tipos de pães caseiros, feitos num forno da Roscioli, na mesma rua.

A bela e inteligente Luciana.

Uma dica certa é o Pão Lariano, típico do Lazio. É feito com farinha integral “00” dos moinhos de Lariano e fermento natural. Ao final, é assado em forno a lenha com galhos de castanheira, o que lhe confere uma linda cor dourada. 

Quanto aos frios, fomos na recomendação de Luciana, absolutamente imperdível: a Cecina de León.  

Fatias de carne bovina de raças nativas de Castela e León,
com processo de maturação e secagem superior
a sete meses, de um sabor defumado untuoso e profundo.
Amei.

Com tantos ingredientes imperdíveis, jantar na Roscioli também é um ótimo programa. As poucas e disputadas mesinhas ao fundo servem soufflé de parmigiano-reggiano de 36 meses com gelatina de Moscato d´Asti, Carbonara, ostras, vários tipos de mussarela de búfala, seleção de peixes defumados, anchovas do Mar Cantabrico, e uma infinidade de outras delícias, impossíveis de investigar numa só visita.

Segunda Parada: IL GOCCETTO
O trabalho incansável e sorriso idem dos donos da casa,
atrás do balcão.

Assim como no Rio, os locais apertados e disputados produzem pessoas em pé espalhadas pelas calçadas, de copo na mão. Retire o chopp do cenário, comum nas passarelas cariocas, e coloque um belo copo de vinho branco... Ecco! Assim se enfrenta o Verão romano. Se o palco é o Il Goccetto, melhor ainda. Goccetto quer dizer “gotinha”... mas não tome uma, tome todas! A casa é um templo de bons vinhos com atmosfera imperdível.

O "baixo"...

A garrafa de Grillo, casta típica da Sicília e
prenúncio da viagem que estava por vir.
Nicola folheia exemplar histórico da Gambero Rosso,
publicação para a qual contribui.


Terceira e última parada: L´ARCANGELO
O sorridente Arcangelo Dandini e seu livro.
Ele não fala português, eu não falo italiano, mas nos
comunicamos muito bem através da comida!

“It takes one to know one”.

Sempre acreditei em trabalhar com ingredientes locais e apoiar pequenos produtores de qualidade, ressaltando a tradição gastronômica da cidade em que vivemos. De cara reconheci em Arcangelo Dandini, o proprietário, a mesma paixão que tenho em meus restaurantes. 

Dedicado a pesquisas sobre as raízes gastronômicas de Roma, o chef e sua esposa Stefania, uma simpatia, mostram a melhor face da cozinha local, executada primorosamente.

Aqui, a tradição achou a sua casa. Aliás, CASA é o termo correto e ela deve ser “vivida” como tal. Me senti na sala de jantar de imaginários primos italianos, onde poderia (se quisesse) bebericar um vinho sem pressa numa das poltronas da entrada do salão simples e austero, de pé direito alto.

E foi dada a largada...

Anchova frita sobre pappa ao pomodoro.
Croquete de batata recheado com
scamorza defumada e anchova. E o tradicional "supplì",
ao fundo.


Pecorino, a uva da vez na Itália.
Para começar (bem) os trabalhos...

Detalhe importante: supplì bom é "al telefono", ou seja,
na mordida, você continua "unido" ao bolinho por um fio,
não de telefone, mas de queijo derretido.

Rigatoni com o verdadeiro guanciale
(bacon feito com a bochecha do porco). 

Porque "ninguém é de ferro"...

Carbonara com massa de Benedetto Cavaliere,
o maior nome em pasta de grão duro na Itália.

A melhor "trippa alla romana" que já comi, com molho
de tomate e hortelã que confere uma leveza fundamental
ao prato.

A polpetta, feita com
carne cozida à exaustão, até desmanchar.

Para "regar" a escolha...
A contínua pesquisa por matérias primas de qualidade também se traduz numa carta com excelentes descobertas de pequenos produtores. A boa notícia é que várias das receitas de Arcangelo podem ser reproduzidas em casa. Basta comprar seu livro “Memoria a Mozzichi”, que rapidamente me preocupei em arrematar.

Se você tem apenas uma noite em Roma, pode dar estes três passos rumo à felicidade. Difícil será conseguir companhia à altura dos adoráveis Nicola e Luciana. 

Grazie, queridos! 

SALUMERIA ROSCIOLI
fechado aos domingos
Via dei Giubbonari, 21
Tel: 06 6875287

IL GOCCETTO
Via dei Banchi Vecchi, 14
fechado aos domingos
Tel: 06 6864268

L´ARCANGELO
Via G.G.Belli 59
fechado aos sábados no almoço e domingos
Tel: 06 3210992

5 comentários:

  1. O Roscioli é um lugar de que não me esqueço. O Carbonara, o Cacio e Pepe e o Amatriciana que comi lá estão entre as boas memórias que carrego das mesas do mundo.
    E o L'Arcangelo me deu vontade de pegar o primeiro voo pra Roma, só por ele...

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  2. Constance, querida! Isso é que é lembrança boa, não?? Salivei escrevendo o post...

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  3. Você fica me devendo uma passagem, pois depois dessa serei obrigado a ir a Roma!

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  4. Cristiana Parabéns!!! Faço parte dos novos membros do grupo Trips Tips e peguei o seu link nas dicas de lá...também estou com um blog de viagens que divulga minha assessoria, com certeza o seu blog fará parte dos meus favoritos. Abraços...Andréa Tozzi Mannarelli

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    1. que bom, Andréa! Acabo de visitar o seu! Vamos nos freqüentar. Grande abraço, Cristiana.

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